quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Gabarito da Prova 101 e 102 - Formação de palavras, Barroco e Arcadismo



01)   Considerando a poesia de Gregório de Matos e o momento literário em que sua obra se insere, avalie as seguintes afirmativas:

1.    Apresentando a luta do homem no embate entre a carne e o espírito, a terra e o céu, o presente e a eternidade, os poemas religiosos do autor correspondem à sensibilidade da época e encontram paralelo na obra de um seu contemporâneo, Padre Antônio Vieira.
2.    Os poemas erótico-irônicos são um exemplo da versatilidade do poeta, mas não são representativos da melhor poesia do autor, por não apresentarem a mesma sofisticação e riqueza de recursos poéticos que os poemas líricos ou religiosos apresentam.
3.    Como bom exemplo da poesia barroca, a poesia do autor incrementa e exagera alguns recursos poéticos, deixando sua linguagem mais rebuscada e enredada pelo uso de figuras de linguagem raras e de resultados tortuosos.
4.    A presença do elemento mulato nessa poesia resgata para a literatura uma dimensão social problemática da sociedade baiana da época: num país de escravos, o mestiço é um ser em conflito, vítima e algoz em uma sociedade violentamente desigual.

Assinale a alternativa correta.

a)    Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras.
b)    Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras.
c)    Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras.
d)    Somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras.
e)    Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras.

Gab: C

02)  
Buscando a Cristo

1A vós correndo vou, braços sagrados,
2Nessa cruz sacrossanta descobertos,
3Que, para receber-me, estais abertos,
4E, por não castigar-me, estais cravados.

5A vós, divinos olhos, eclipsados
6De tanto sangue e lágrimas abertos
7Pois, para perdoar-me, estais despertos,
8E, por não condenar-me, estais fechados.

9A vós, pregados pés, por não deixar-me,
10A vós, sangue vertido, para ungir-me,
11A vós, cabeça baixa p’         ra chamar-me.

12A vós, lado patente, quero unir-me,
13A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
14Para ficar unido, atado e firme.
GUERRA, Gregório de Matos. Poemas Escolhidos. São Paulo: Editora Cultrix, 1989.

Considerando a escola literária Barroco, analise as afirmativas a seguir:

I.     O soneto apresenta metonímias que vão relacionando as partes de Cristo ("braços", "olhos", "pés", "sangue", "cabeça"), substituindo, aos poucos, o todo: Cristo crucificado. Com esse recurso, percebe-se que cada uma das partes do corpo revela uma atitude acolhedora, de bondade e de comiseração, o que assegura ao eu lírico fé e confiança.
II.    Nesse poema, é perceptível o trabalho com figuras de linguagem representando o aspecto conceptista do Barroco. É um jogo de palavras que se desenvolve também com outros recursos, como as anáforas em “Vós” (v. 5, 9, 10, 11, 12 e 13), o que parece registrar o desejo do eu lírico de se encontrar com Cristo.
III.  No soneto, nota-se uma das características típicas da estética barroca, o uso de situações ambivalentes, que permitem a dupla interpretação, como se vê nessa passagem – “braços abertos e cravados” (presos); os braços estão abertos para receber o fiel e, ao mesmo tempo, fechados para não castigá-lo pelos pecados cometidos.
IV.  O texto expõe, de maneira exemplar, ao longo dos versos decassílabos, em linguagem rebuscada, o tema do fusionismo na personificação do fiel, que reconhece os sinais do acolhimento de Cristo e, por isso, esse fiel manifesta o seu desejo de “ficar unido, atado e firme”, reforçando ainda a constatação da fragilidade humana.
V.   Por suas idiossincrasias quanto à visão dos pares antagônicos – pecado/perdão – o poeta utiliza, no final do poema, alguns versos livres e brancos, com os quais obtém um efeito mais leve, de caráter religioso, também cultivado pelo conceptista Padre Vieira.

Está CORRETO o que se afirma em

a)    I, II e III.
b)    I, III e IV.
c)    II, III e IV.
d)    II, IV e V.
e)    III, IV e V.

Gab: B

03)   Leia com atenção os textos 1, 2 e 3, de Gregório de Matos Guerra.

TEXTO 1
“Pequei, Senhor, mas não por que hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque quanto mais tenho delinqüido
Vos tem a perdoar mais empenhado”....

TEXTO 2
“Qual homem pode haver tão paciente
Que, vendo o triste estado da Bahia,
Não chore, não suspire e não lamente?”...

TEXTO 3
“Discreta e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora,
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos e boca, o sol e o dia.”....

Analise as afirmações que são feitas a respeito dos textos 1, 2 e 3, acima citados.

I.    O texto 1 retrata o lirismo amoroso do autor.
II.   Os textos 2 e 3 retratam, respectivamente, a poesia satírica e a poesia amorosa do autor.
III. Os textos 1 e 3 retratam, respectivamente, a poesia amorosa e a poesia religiosa do autor.

Quais estão corretas?

a)   Somente I.
b)   Somente II.
d)   Somente III.
d)   Somente I e III.
e)   I, II e III.

Gab: B

04)   Os Sermões do Padre Antonio Vieira, enquanto gênero sacro, se caracterizam por usar a palavra de maneira perspicaz e por dar a cada palavra a tensão necessária. Para o crítico português Antônio José Saraiva, “não há nele palavras átonas, indiferentes, languescentes. Cada uma parece ocupar o lugar que lhe é próprio, como um estado de alerta”. Ante o exposto, qual é, dentro das opções elencadas abaixo, o processo retórico que não caracteriza e, por sua vez, não compõe a estrutura da extensa e erudita obra de Vieira?

a)   Cultor da oratória conceptista, os Sermões partem sempre de um fato real ou de algo observado.
b)   Construindo uma analogia entre o seu momento presente e a “verdade” do texto bíblico, Vieira seduz, por meio da palavra precisa, o ouvinte/leitor a refletir e a reagir sobre os temas da sua pregação.
c)   Seus Sermões, apesar da riqueza imagética, se caracterizam por um vocabulário pouco seleto e uma sintaxe previsível e pobre.
d)   Orientado por objetivos morais, políticos ou religiosos, Vieira busca sempre atingir seu alvo com invulgar eloqüência e força de persuasão.
e)   Os Sermões de Vieira seguem, em quase totalidade, a estrutura da retórica clássica tripartite: intróito (ou exórdio), desenvolvimento (ou argumento) e peroração.

Gab: C

05)   Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.
Adaptado de: Carlos Drummond de Andrade. A palavra mágica. Rio de Janeiro: Recorde, 1998.

Em relação ao texto e o termo ali destacado, assinale o que for correto.

01.  Coisamente, assim como a palavra a partir da qual se origina é um substantivo.
02.  Pode-se considerar aceitável para o contexto que ser coisa é menos particular que ser homem.
04.  O uso do sufixo –mente junto à coisa forma um advérbio, embora esse processo seja típico com adjetivos e não com substantivos como coisa.
08.  Após derivar de um substantivo, coisamente figura em uma nova classe gramatical.

Gab: 14

06)   Leia o anúncio.

(Veja, 24.06.2009.)

a)      Explique que relação de sentido há entre os termos aperfeiçoamento e perfeição na construção da mensagem publicitária.
A palavra “perfeição” significa, de acordo com o Aurélio, “o máximo de excelência a que uma coisa pode chegar”, “a ausência de quaisquer defeitos”. O termo “aperfeiçoamento” se refere ao ato de tornar perfeito. A relação de sentido, portanto, é de redundância. Nessa perspectiva, em sentido literal, o que já é perfeito não poderia ser aperfeiçoado. Na construção da mensagem publicitária, contudo, explora-se expressivamente a quebra da lógica, para sugerir que a montadora do Tucson 2010 consegue até mesmo o milagre em termos de perfeição.

b)   A palavra aperfeiçoamento deriva do verbo aperfeiçoar, que, por sua vez, deriva de perfeição. Indique o processo de formação usado em cada caso.

      A palavra “perfeição” funciona como base para a formação do verbo “aperfeiçoar”, por derivação parassintética (agregação simultânea do prefixo e do sufixo). “Aperfeiçoar”, por sua vez, serve de base para formar o substantivo “aperfeiçoamento”, por derivação sufixal.

07)  

      "Monstroristas", "mautoristas", "frustrados que compraram carro para respirar fumaça", "covardes". É assim que ciclistas engajados na defesa do uso de bicicleta como meio de transporte urbano chamam motoristas de carros, ônibus e afins.

      O atropelamento de ciclistas em Porto Alegre na semana passada acirrou os ânimos desse grupo, que reagiu com "bicicletadas" de protesto.
      O paulistano Renato Zerbinato, 34, se envolveu com o cicloativismo há dois anos, após se mudar para Brasília, cidade que define como "extremamente hostil" aos ciclistas devido às vias rápidas.
      Ele vê uma "guerra velada" entre ciclistas e motoristas, que, reclama, não costumam respeitar a distância de 1,5 m do ciclista e o direito de bicicletas e carros dividirem a pista, previstos no Código Brasileiro de Trânsito.
(Folha de São Paulo, 09/03/2011.)

Considere as afirmações:

I.     Por associação a outras palavras que também empregam o sufixo “-ada”, um leitor incauto poderia imaginar que “bicicletada” significa “usar a bicicleta como arma para golpear alguém”.
II.    Se optasse pelo mesmo processo de formação de “monstroristas” e “mautoristas” para relatar um atropelamento provocado por um condutor embriagado, o jornalista poderia usar o neologismo "alcooltecimento".
III.  O substantivo “cicloativismo”, no contexto em que ocorre, sugere ideia de “intervalo”, “período”, indicando que movimentos engajados, como o mencionado na notícia, são esporádicos.

Está(ão) correta(s):

a)    I, II e III.
b)    Apenas I e II.
c)    Apenas I e III.
d)    Apenas II e III.
e)    Apenas II.

Gab: B

TEXTO: 1 - Comum à questão: 8

  
Pneumotórax
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
- Respire.
...........................................................................................
- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
(Manuel Bandeira, Libertinagem)

08)    "Pneumotórax", palavra que dá título ao famoso poema de Manuel Bandeira, é vocábulo constituído de dois radicais gregos (pneum[o]- + -tórax]. Significa o procedimento médico que consiste na introdução de ar na cavidade pleural, como forma de tratamento de moléstias pulmonares, particularmente a tuberculose. Tal enfermidade é referida no diálogo entre médico e paciente, quando o primeiro explica a seu cliente que ele tem "uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado". Esta última palavra é formada com base em um radical: "filtro". Quanto à formação vocabular, o título do poema e o vocábulo "infiltrado" são constituídos, respectivamente, por
a)    composição, e derivação prefixal e sufixal.
b)   derivação prefixal e sufixal, e composição.
c)    composição por hibridismo, e composição prefixal e sufixal.
d)   simples flexão, e derivação prefixal e sufixal.
e)    simples derivação, e composição sufixal e prefixal.

Gab: A

TEXTO: 2 - Comum às questões: 9, 10

 
1    Triste Bahia! Oh quão dessemelhante
Estás, e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vejo eu já, tu a mi abundante.

5    A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado
Tanto negócio, e tanto negociante.

Deste em dar tanto açúcar excelente
10  Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.

Oh se quisera Deus, que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!
(MATOS, Gregório de. Poesias selecionadas. 3. ed. São Paulo: FTD, 1998. p. 141.)

09)   A partir da leitura do texto, considere as afirmativas a seguir.

I.     O poema faz parte da produção de Gregório de Matos caracterizada pelo cunho satírico, visto que ridiculariza vícios e imperfeições e assume um tom de censura.
II.    As figuras do desconsolado poeta, da triste Bahia e do sagaz Brichote são imagens poéticas utilizadas para expressar a existência de um triângulo amoroso.
III.  O poema apresenta a degradação da Bahia e do eu-lírico, em virtude do sistema de trocas imposto à Colônia, o qual privilegiava os comerciantes estrangeiros.
IV.  Os versos “Que em tua larga barra tem entrado” e “Deste em dar tanto açúcar excelente” conferem ao poema um tom erótico, pois, simbolicamente, sugerem a ideia de solicitação ao prazer.

Assinale a alternativa correta.

a)    Somente as afirmativas I e II são corretas.
b)    Somente as afirmativas I e III são corretas.
c)    Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d)    Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.
e)    Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

Gab: B

10)   No que diz respeito à relação entre o eu-lírico e a Bahia, considere as afirmativas a seguir.

I.     Na primeira estrofe, o eu-lírico identifica-se com a Bahia, pois ambos sofrem a perda de um antigo estado.
II.    Na primeira estrofe, a Bahia aparece personificada, fato confirmado no momento em que ela e o eu-lírico se olham.
III.  Na terceira estrofe, constata-se que a Bahia não está isenta da culpa pela perda de seu antigo estado.
IV.  Na quarta estrofe, o eu-lírico conclui que a lamentável situação da Bahia está em conformidade com a vontade divina.

Assinale a alternativa correta.

a)    Somente as afirmativas I e II são corretas.
b)    Somente as afirmativas II e IV são corretas.
c)    Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d)    Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
e)    Somente as afirmativas I, III e IV são corretas.

Gab: D

11) O carpe diem é um dos temas recorrentes na poesia do Arcadismo que também pode aparecer na poesia de outros estilos de época. Dentre as alternativas abaixo, assinale aquela(s)  que apresenta(m)  exemplo(s)  desse tema:

01. Tristes lembranças! e que em vão componho
A memória da vossa sombra escura!
Que néscio em vós a ponderar me ponho!
(COSTA, Cláudio Manuel da. Poemas escolhidos. Rio de Janeiro: Ediouro, 1997. p. 49.)
02. Ah! não, minha Marília,
Aproveite-se o tempo, antes que faça
O estrago de roubar ao corpo as forças,
E ao semblante a graça!
(GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. São Paulo: Martin Claret. 2009. p. 48.)
04. Gozai, gozai da flor da formosura,
Antes que o frio da madura idade
Tronco deixe despido, o que é verdura.
(MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. São Paulo: Cultrix, 1976. p. 320.)
08. Amanhã! — o que val’, se hoje existes!
Folga e ri de prazer e de amor;
Hoje o dia nos cabe e nos toca,
De amanhã Deus somente é Senhor!
(DIAS, Gonçalves. Poesia e prosa completas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998. p. 444.)

Gab: 14

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